segunda-feira, 8 de junho de 2009

VOLTANDO A FALAR DA CONSTRUÇÃO DO CENTRO CULTURAL DE SÃO MIGUEL PAULISTA ( AINDA DÁ TEMPO ! )

A intenção desse artigo é apresentar algumas reflexões em torno da proposta de ocupação do terreno que sediou o antigo cemitério de São Miguel Paulista. Este sítio localizado à apenas 400 metros de distancia da histórica igreja dos índios Guaianazes, tombada pelo IPHAN, já é por si só um sujeito histórico cultural, não como uma abstração, mas inserida num processo de construção onde o individual este intimamente relacionado ao imaginário coletivo. Quem são os sujeitos individuais de uma sociedade; se não os moradores do bairro, da cidade e do campo, com seus trabalhadores assalariados na sua maioria, migrantes ou imigrantes, idosos, adultos, jovens ou crianças que convivem juntos participando mutuamente suas diversas experiências cotidianas e assim transformando seus modos de viver e de se organizar ampliando as suas mais diversas bagagens culturais, enfrentando, ou não, a exclusão e a segregação. Nessa perspectiva a cultura aqui não é pensada como uma curiosidade, mas aquela que originada na realidade sociológica, e recoberta de signos e sentidos, através das quais as pessoas se expressam, reage, exercendo suas responsabilidades criativas ou não forjando as suas mudanças e a mantendo dinâmica. É buscando apreender e focar estes sentidos sociais, que poderemos inserir naquele espaço público, suas histórias signos e ícones em contraponto a dos grupos políticos que ainda parecem se esquecer ou simplesmente não querem considerar estes aspectos que diretamente deram base ao processo histórico de revitalizar aquele campo. Desde 1979, quando os moradores do bairro apoiaram e lutaram pela consolidação de um espaço alternativo para aglutinação e difusão cultural que originalmente foi abrigada na capela de são Miguel, tornando a translúcida como um espelho desenterrado sob a poeira do tempo, que posteriormente protagonizou o advento do MPA-circo picadeiro cultural, que sob sua singela tenda também coloriu com novos matizes encontros ao redor da produção e inserção cultural difundida por toda a região, e seus entorno, tendo em vista que o mesmo foi quem promoveu o movimento cultural Penha e de Mogi das Cruzes. Que ainda hoje continua estimulando novos caminhos culturais ao longo destes 30 anos subsistindo em nossa memória e imaginário coletivo uma expressiva e significativa produção popular. Num processo em que sempre se manteve latente suas raízes originais, tendo em vista que o mesmo propunha uma perspectiva de integração coletiva e simbiótica no tocante aos princípios democráticos em todo o processo de reivindicação de uma edificação com a finalidade de abrigo cultural para aquele campo vazio. Para tanto, foi que entre outras propostas surgiu a da Rede de Cultura da Zona Leste, juntamente com o Fórum de Cultura de São Miguel em 2003, promoveram estudos que esboçavam uma tríade espacial que se interligaria aos espaços construídos existentes: Casa de Cultura, Biblioteca, Espaço Memorial Ururay embasados por um auditório multiuso, que complementaria a EMEFM Darcy Ribeiro e ao CMCT. Uma proposta contundente que tinha por objetivo retomar as discussões junto à secretaria municipal de cultura em busca de retomar seu apoio para fomentar uma proposta de ocupação espacial para toda aquela área, assim como, estimular alternativas políticas de inclusão e produção cultural na região, tendo o plano como elemento catalisador. Tendo como objetivo a integração do terreno remanescente ao restante da área ocupada pela educação promover a tal simbiose cultural e espacial, atrelando à memória e identidade coletiva dos moradores do bairro, pois sabedores de sua fonte retentora de informação e conhecimento que embasaria qualquer nível de experiência cultural potencializando-se a nível individual ou coletivo. E assim entre outros diversos momentos buscaram articular os vários aspectos multiformes da nossa identidade e realidade local atribuindo proposta gestora a de um projeto arquitetônico dinâmico e flexível que respeitasse todas as transformações inseridas naquele local através do tempo. Mas recentemente quando novamente tentaram sobe formato de uma comissão sem liderança para juntos a secretaria de educação tentar encontrar a melhor solução projetual para sua futura ocupação definitiva, depararam se com a burocracia da máquina pública, que mesmo sobe uma promessa pública do secretário de educação em promover naquele campo uma edificação ícone de uma união histórica entre cultura e educação. Entretanto, surgiram às lideranças e com isso a falta de consenso que fizeram a todos perder o foco aprovando em minoria um plano que ainda não convenceu a maioria. E assim mesmo considerando o programa espacial parcialmente estabelecido implantaram o mesmo de forma polêmica. Ou seja, nos quatro blocos arquitetônicos distintos interligados por grande uma marquise, que não contempla a nossa nômade Biblioteca Municipal Raimundo de Menezes sediada num prédio alugado expondo apenas um terço do seu acervo total de 45.000 títulos. A mesma proposta também esboça ambíguamente um crime contra o patrimônio cultural e ambiental, quando seus proponentes propõem construir mais uma escola justamente no local que concentra um estimado arvoredo remanescente do antigo cemitério além de soterrar para sempre os alicerces da antiga capela assim como todo o conjunto da memória dos nossos idosos e antepassados. Sendo assim, o mesmo projeto protocolado como “definitivo” foi concluído no dia 1 de Abril como nos informa os seus autores nos selo das pranchas apresentadas por Edif e Siurb, no entanto tudo o que podemos concluir no apagar dos flashes promovidos pela polêmica proposta aprovada em minoria, é o que como foi dito pelo arquiteto suíço, Peter Zunthor, ganhador do Prêmio Pritzker 2009, “todo edifício deve ser construído para um uso específico e para uma sociedade específica”. Mas pelos planos traçados para o centro educacional e cultural de São Miguel Paulista está evidente que neste ainda não se encontrou um conjunto sistemático que dirimiu todas as incertezas pré-existentes de todos elementos espaciais envolvidos na sua concepção histórica. / TEXTO PROFESSOR RUY BARBOSA SILVA

ABAIXO FOTOS DO LOCAL COM SUAS ARVORES, A ANTIGA ENTRADA DO CEMITÉRIO E A LOCALIZAÇÃO POR SATÉLITE