domingo, 20 de julho de 2008

PAUTA DO DIA ! ( CARROS x AR )

Diariamente, quatro pessoas morrem por causa da poluição das grandes metrópoles, Enquanto se discute se o fumante pode dar suas baforadas em bares ou restaurantes, todos os paulistanos fumam, involuntariamente, pelo menos dois cigarros por dia. Como? Por causa da poluição: diariamente, partículas são eliminadas pelos escapamentos dos automóveis e pelas chaminés das indústrias e retidas pelos bronquíolos, agravando as doenças cardio-vasculares e respiratórias. A grande circulação de automóveis na cidade - principal responsável pela poluição da capital paulista - provoca a morte de quatro pessoas todos os dias. O pior: são os mais pobres que sofrem mais e, conseqüentemente, morrem mais. É o que Paulo Saldiva, professor do Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina da USP e coordenador de pesquisas sobre patologia do aparelho respiratório e poluição, chama de "injustiça ambiental". Em sua apresentação na palestra "Qualidade do ar e mobilidade urbana em São Paulo", organizada pelo movimento "Nossa São Paulo: Outra Cidade", no dia 23, contou que, se a poluição aumentar 2% na cidade, o número de pessoas que terão doenças agravadas aumentará muito mais em São Miguel Paulista, bairro no extremo leste da cidade, do que na região da Cerqueira César, no centro. Por quê? "Porque quem está perto do centro tem maiores condições financeiras para comprar remédios e pagar por melhor assistência. Além disso, os carros que por lá trafegam são mais modernos e poluem menos". Estima-se que as pessoas mais carentes morrerão seis vezes mais por causa da poluição do que as ricas."O rio Tietê, todo poluído, não mata ninguém porque ninguém bebe de suas águas. O Guarapiranga também é, mas a água é tratada antes de ser servida à população. No ar não existe isso. Não existe um filtro que melhore as condições atmosféricas", lembra Saldiva. E esse quadro pode piorar. Cerca de 800 novos veículos são incluídos na frota de São Paulo, todos os dias. São tantos carros que nem a maior cidade do país agüenta. "A frota da capital paulista é de 5 milhões de automóveis, mas apenas 3,5 milhões circulam. No horário de pico, são cerca de 700 mil que estão nas ruas. Se todos saíssem ao mesmo tempo, aconteceria um colapso!", estima Nazareno Stanislau Affonso, coordenador do Movimento Nacional Pelo Direito do Transporte Público de Qualidade Para Todos e diretor do instituto Rua Viva, ONG responsável pel a campanha do "Dia Mundial Sem Carro". A grande quantidade de carros não é só prejudicial aos pulmões. "No período entre o acidente do avião da Gol e o da TAM, cerca de 400 pessoas morreram em acidentes aéreos. Só no trânsito, no mesmo período, foram 12 mil", alerta Nazareno. "Os cidadãos precisam diminuir seu vício pelo automóvel. Existem outros meios mais saudáveis e melhores para o bem-estar do que o carro". Para ajudar nessa conscientização é que São Paulo apoiou a campanha do "Dia Mundial Sem Carro", que acontecerá em 22 de setembro, junto com a primeira "Virada Esportiva". Para que uma cidade participe dessa atividade, um dos requisitos é que uma região seja isolada, facilitando a circulação de pedestres e ciclistas. "A CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) tem capacidade para fechar qualquer parte da capital. Se isolam áreas para a realização de um jogo de futebol ou um showzinho qualquer, por que não fechar uma área central para o bem-estar da população?", indagou Nazareno. Eric Ferreira, doutor em Engenharia de Transportes e coordenador de Mobilidade do Instituto de Energia e Meio Ambiente, ressaltou que cada vez menos pessoas usam o transporte público, "porque usar o carro é mais cômodo e barato". Se o transporte coletivo fosse melhor, talvez mais pessoas conseguiriam se independer do uso do automóvel, com mais facilidade. "Além disso, se modernizássemos a frota dos ônibus, sem precisar acrescentar novos veículos, o volume de todos os poluentes seriam reduzidos", concluiu Ferreira./Por Thiago Carrapatoso / 24 /07/ 2007