Perceber as possíveis rupturas moleculares que poderíamos criar com outras frequências, captadas não nas principais estações de rádio, mas na alma das ruas, nas solas dos pés cansados, e nos rostos que sentem o calor dos fins dos dias.Sentir e não pensar, talvez pareça poesia demais, demagogia de bicho grilo, mas creio que poucas coisas são mais concretas do que o sentir, e que se não tivessemos nascidos em uma sociedade tão mecanicista, encontraríamos menos tristeza nas mentes e corações. Caminhamos já a algum tempo rumo ao esquecimento de nossas relações com o organismo vivo que todos nós hábitamos, mas em pouquíssimas vezes nos damos conta, Gaia, terra, vida....Aqui cabe uma pequena digressão caro leitor, e eis que coloco minha tola, porém inquieta hipótese ao alcance de seus olhos; com as conquistas racionais e a percepção da vida atráves de uma ótica mecanicista, Descartes dava os primeiros passos no século 17, para o deslocamento dos valores que antes ligavam o ser humano a uma visão mais abrangente e interconectada da vida. Daí para o grande salto revolucionário da industrialização foram poucos passos. Eis que nós filhos do século XX presenciamos e vivenciamos as revoluções tecno-científicas, onde a ordem agora é o virtual, a nanotecnologia, e a inteligência super-artificial, alguns irão dizer que finalmente a realidade tornou-se ficção, mas mais do que isso a ficção produziu sonhos que se tornaram realidade. A sede de viver, a vida sedenta por algo mais que trabalho, e o mais profundo que chegamos nos dias de hoje é o fundo das garrafas vazias que bebemos durante a semana. O esvaziamento simbólico que nossa sociedade consumista sente na pele no dia a dia, produz a cada momento mais vibrações depressivas, sintoma de nossa era a depressão, parece ser a face obscura que nossa sociedade hedonista e cheia de possibilidades para tornar-se o melhor de todos, e não com todos, não querer ver. Me pergunto, como tanta insatisifação emocional, e doenças psiquícas em uma sociedade que se diz ser a melhor já alcançada pela humanidade? Mais do que filhos de nossos pais, somos filhos de nosso tempo, estar cego ou desejar a cegueira, não é mais a questão pertinente, e sim não perceber que talvez o afastamento contínuo da vida,e do planeta terra em que habitamos, seja esse sim o fruto de tantas angústias e ausências de horizontes mais coloridos.