
Preso 28 dias e incluído no inquérito, Buzetto foi o único indiciado e respondeu processo em liberdade. Em 2006 foi condenado a 6 anos e 4 meses de prisão em regime semi-aberto, com direito ao domiciliar até que houvesse vaga no semi-aberto. Embora com recurso ainda a ser julgado pelo STF, ele se viu coagido a iniciar o cumprimento da pena. Casado e pai de um filho, e com endereço fixo, desde a sentença comparecia todo mês ao fórum. Em 19 de janeiro último prenderam-no sob a justificativa de que surgira uma vaga no semi-aberto. Ora, há inúmeros condenados que, muito antes dele, aguardam, fora das grades, vaga similar. Levado à delegacia de São Caetano (SP), desde 22 de janeiro encontra-se em São Miguel Paulista, recluso em regime fechado, e sem direito à prisão especial, como reza a lei em se tratando de diplomado em curso superior. Magrão participou, em 1999, de manifestação dos sem-terra em Boituva (SP) para denunciar a lentidão da reforma agrária e o aumento de tarifa dos pedágios. Mas de 100 pessoas foram presas, das quais 6 ficaram mais de um ano na cadeia. Responderam processo em liberdade. Em 2005, Magrão foi condenado a 5 anos e 8 meses em regime semi-aberto. Desta decisão, foram interpostos recursos ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) e ao Supremo Tribunal Federal (STF) e o processo ainda não transitou em julgado. Ocorre que ao confirmar a condenação, o Tribunal de Justiça determinou a expedição de mandado de prisão de Benedito a fim de dar início ao cumprimento da pena. Desde setembro de 2006, quando já teria direito ao aberto, Magrão ficou recluso no cadeião de Pinheiros, do qual o transferiram na segunda-feira, 12 de fevereiro. Agricultor e pai de dois filhos, aguarda recurso encaminhado ao Judiciário paulista.
A prisão desses dois companheiros tem conotação nitidamente política. Exerceram seu direito de cidadania ao reivindicar um direito que o governo tarda em reconhecer - a reforma agrária -, e agiram sem nenhuma lesão a pessoas. Se alguém considera que cometeram abusos, é o caso de repetir o desafio de Jesus: quem pode atirar a primeira pedra? O prefeito de São Paulo e o presidente FHC, que chamaram manifestantes e aposentados de "vagabundos"? O governo Lula tem agido com sensatez ao manter canais de diálogo com os movimentos sociais e não ceder às pressões para criminalizá-los. Resta ao Congresso e ao Poder Judiciário, tão assediados por criminosos de colarinho branco, latifundiários que invadem terras indígenas e mantêm trabalho escravo, também abrirem-se ao diálogo com as bases populares organizadas. Ricos, quando fazem pressão, estendem à mão ao telefone e são ouvidos pela autoridades e pela mídia. Alguns, até assinam cheques… Já os pobres não têm alternativa senão a manifestação pública, que deveria ser por todos reconhecida como direito intrínseco ao grande sonho brasileiro: a democracia participativa. Na prisão de São Miguel Paulista, oramos para que a Justiça faça justiça a Marcelo Buzetto e Benedito Cardoso, o Magrão./Frei Betto é escritor, autor de "Batismo de Sangue" (Rocco), entre outros livros.