domingo, 10 de maio de 2009

O CAMINHO !

Há algo, um todo indiferenciado, que nasceu antes do céu e da terra. Ele não tem forma concreta, apenas imagens abstratas. Ele é profundo, escuro, silencioso, indefinido, e não escutamos sua voz. Atribuindo um nome a ele, eu o chamarei de Caminho. O Caminho é infinitamente elevado, insondavelmente profundo. Incluindo céu e terra, recebendo daquilo que não tem forma, ele produz uma corrente que flui ampla e profundamente sem transbordar. Opaco, ele usa a clarificação gradual através da imobilidade. Quando é aplicado, ele é infinito e não tem dia ou noite; no entanto, quando é representado, nem sequer enche uma mão. Ele é restrito mas pode expandir-se, é escuro mas pode iluminar, é flexível mas pode ser firme. Ele absorve o negativo e emite o positivo, mostrando assim as luzes do sol, da lua e das estrelas. As montanhas são altas por causa dele, os oceanos são profundos por causa dele, os animais correm por causa dele, os pássaros voam por sua causa. Os unicórnios passeiam por causa dele, as aves fênix erguem seu vôo por causa dele, e as estrelas seguem suas trajetórias por causa dele Ele garante a sobrevivência através da destruição, a nobreza através da baixeza, o avanço através da retirada. Na antigüidade, os Três Veneráveis alcançaram a ordem unificadora do Caminho e permaneceram no centro, os seus espíritos avançaram com a Criação, e assim eles confortaram a todos nos quatro cantos. Assim o Caminho realiza o movimento dos céus e a estabilidade da terra, girando interminavelmente como uma roda, fluindo incessantemente como água. Ele está presente no início e no final das coisas: quando o vento se ergue, quando as nuvens se condensam, quando o trovão soa e a chuva cai, ele responde em harmonia e infinitamente. Ele devolve à simplicidade o que é esculpido e polido. Ele não se esforça para fazer isso, mas se une à vida e à morte. Ele não se esforça para expressar isso, mas transmite virtude. Ele implica uma felicidade pacífica que não tem orgulho, e assim alcança a harmonia. Há miríades de diferenças à medida que o Caminho facilita a vida: ele harmoniza a escuridão e a luz, regula as quatro estações e sintoniza as forças da natureza. Umedece o mundo vegetal e permeia o mundo mineral. Os animais crescem, os seus pêlos ficam lustrosos, os ovos dos pássaros não se rompem, os animais não morrem nos ventres maternos. Os pais não sofrem a dor de perder seus filhos, os pequenos não têm a tristeza de perder uns aos outros. As crianças não ficam órfãs, as mulheres não ficam viúvas. Os sinais atmosféricos de mau agouro não são vistos, assaltos e banditismo não ocorrem. Tudo isso é provocado pela virtude interior. O Caminho natural e constante faz os seres nascerem mas não os possui, ele produz a evolução mas não a governa. Todos os seres nascem dependendo dele, porém nenhum sabe agradecer-lhe; todos morrem por causa dele, porém nenhum pode ter ressentimento contra ele. Ele não é enriquecido pelo estoque e pela acumulação, e tampouco empobrece por desembolsar e aproveitar. Ele é tão incompreensível e indefinível que não pode ser imaginado, porém, enquanto é incompreensível e indefinível, a sua função é ilimitada. Profundo e misterioso, ele responde à evolução sem forma; bem-sucedido e eficiente, ele não age em vão. Ele se enrola e se desenrola com firmeza e flexibilidade, se contrai e se expande com escuridão e luz. /Lao -tzu