quinta-feira, 30 de abril de 2009

ASSOCIAÇÕES QUESTIONAM VIRADA CULTURAL EM SÃO PAULO !

Nos dias 2 e 3 de maio, São Paulo realiza pela quinta vez a Virada Cultural, atividade promovida pela Secretaria Municipal de Cultura, com duração ininterrupta de 24 horas, com diversas atrações, que vão de Jon Lord (ex-Deep Purple), Tom Zé, Maria Rita, Novos Baianos e Reginaldo Rossi até músicos sem espaço na mídia, além de performances teatrais e apresentações circenses, envolvendo centenas de artistas de vários gêneros. Muitos se apresentam em palcos montados nas ruas do centro da cidade – portanto, acesso gratuito. Embora plural, a prática é questionada pelas associações do meio artístico, que não a consideram uma política municipal de cultura.O presidente da Cooperativa de Música, o compositor e pianista Luis Felipe Gama, avalia que a atividade “pode até ter seu lugar, mas não podemos confundir com política pública”. Segundo o músico, a Virada Cultural é muito ligada ao entretenimento. “Porém, não se presta a formação de público e difusão da cultura”, afirma.Luis Felipe Gama questiona também a forma que a curadoria seleciona as atrações da Virada Cultural. Ele alega que a cooperativa nunca foi convidada para ser parceira na atividade, embora seus cooperados tenha uma participação ativa na programação. A Cooperativa de Música, com sede em São Paulo, possui 1,4 mil associados.Ainda de acordo com o músico, embora o Circuito Cultural Paulista – programa do Governo do Estado em parceria com os municípios de difusão de espetáculos no interior - apresente muitas deficiências, a prática é um exemplo melhor de política pública. “O Circuito institui aos artistas laços com a mídia, as prefeituras e o público”, explica.Já o presidente da Cooperativa Paulista de Teatro, Ney Piacentini, acha que a atividade tornou-se importante para a cidade. Porém, ele concorda que a Virada Cultural não se enquadra em uma política de cultura. “A Virada é um evento. No dia seguinte só sobra ressaca. Com a cultura, tem que se pensar em continuidade, tem que refletir e não só entreter”, argumenta. A Cooperativa Paulista de Teatro, que possui cerca de quatro mil associados integrados a mil grupos teatrais, é parceira voluntária da Virada Cultural. “A cooperativa representa 80% da produção teatral do estado. Muitos associados participam do acontecimento”, justifica Piacentini a parceria.O produtor geral da 4º Mostra Latino-Americana de Teatros de Grupo, Alexandre Kavanji, avalia que atividade “custa uma fortuna e não deixa nada”. O governo do município destina ao fomento de teatro R$ 9 milhões, para 30 grupos trabalharem o ano inteiro. A Virada Cultural de São Paulo irá despender em 24 horas R$ 4,5 milhões. “Você bota uma multidão na rua e 24 horas depois as pessoas esquecem”, critica. Kavanji exemplifica que os grupos selecionados na Lei de Fomento para o Teatro é um projeto de sequência. “Alguns reúnem comunidades, outros grupos pesquisam. São projetos de longo prazo, com envolvimento”, expõe. Para o produtor, “quem ganha com a Virada é o prefeito e o artistas grandes (que cobram cachês altos para participar)”.A Mostra Latino-Americana de Teatros de Grupo, organizada pela Cooperativa Paulista de Teatro, já integrou no passado a programação da Virada Cultural porque um dos dias de sua realização aconteceu justamente na data do evento da prefeitura e, além do mais, estava sendo apresentada no Centro Cultural São Paulo, espaço administrado pelo governo municipal. A Mostra deste ano se inicia um dia depois da Virada Cultural. / Augusto Diniz