sexta-feira, 24 de abril de 2009

DESCOBRINDO QUEM SOMOS !

Uma vez que tenhamos alcançado a experiência transcendental e estando abertos para um fluxo maior de energia e segurança interior, algo muito profundo começa a ocorrer: começamos a enxergar nós mesmos e nosso comportamento de uma perspectiva mais elevada, do ponto de vista do nosso Eu mais energizado. O sentido de identidade supera as reações de insegurança do nosso ego e assume o ponto de vista de uma testemunha, agora identificado com toda a criação divina e apto a ver com nova objetividade o nosso Eu definido pela sociedade.A partir desse ponto de vista, acredito que uma das primeiras coisas que observamos nitidamente é como nós pessoalmente reagimos sob tensão. Pela primeira vez podemos ver com clareza o nosso próprio drama de controle. Isso pode acontecer em qualquer lugar: no trabalho, no mercado, talvez durante uma conversa com alguém importante em nossa vida. A princípio estamos vivendo plenamente a nossa nova abertura quando acontece alguma coisa; a situação fica tensa e nós retornamos ao nosso antigo drama.Fazemos força para manter a energia do nosso Eu superior, manter a posição de testemunha, mesmo que parte de nós continue com o comportamento defensivo. É nessa ocasião que podemos ter uma sensação de revelação a respeito de nós mesmos ao observarmos os nossos atos. Antigos comentários sobre os nossos padrões e roteiros, comentários que na época negamos com tanta veemência, podem ressurgir à tona com uma nova legitimidade. Podemos até pensar: "Então é assim que eu realmente me comporto sob pressão,"Podemos estar vendo um Coitado de Mim tentando criar culpa, o alheamento de um Distante, as críticas de um Questionador ou a postura atemorizante de um Intimidador. De qualquer maneira, passamos pela experiência de enxergar todas as nossas manipulações para obter energia das outras pessoas.Então a pergunta se impõe: de onde se originou esse nosso comportamento e o que podemos fazer a respeito disso?Esse questionamento nos remete às pesquisas pioneiras dos anos 60 e 70 a respeito da dinâmica familiar. Sabemos que é a família, especialmente os pais, a estrutura da nossa primeira exposição ao mundo. (Se nossos pais não estavam presentes, havia outras pessoas assumindo esse papel.) Ao imitar-lhes as atitudes e o comportamento, aprendemos com essas pessoas a nossa primeira noção do que é o mundo.Como o psicólogo James Hillman deixa bem claro em seu recente livro O Código do Ser,1 todos nós chegamos a este mundo dotados de caráter e vocação, mas a névoa do nascimento obscurece essa compreensão de nós próprios, e os esforços da infância podem ser intensos e muito assustadores. Quando nascemos, perdemos a nossa ligação segura com o amor e a energia divinos — de repente nos tornamos dependentes dos outros para obter alimento, proteção e segurança.Com demasiada freqüência, recebemos amor e energia de menos, porque as pessoas que nos criam têm pouco para dar e funcionam através dos próprios dramas de controle. Alguns pais sugam inconscientemente a energia de seus filhos pequenos, forçando-os a moldar seus próprios dramas para poderem se defender. Por exemplo, um Coitado de Mim pode estar sempre diminuindo o filho por este ajudar em casa, ou até mesmo culpá-lo por seus problemas, dizendo algo como: "Se eu não tivesse você, poderia ter ido longe na minha carreira. O pai Distante mostrar-se-á ausente, insinuando que seu amor não é incondicional. Um Questionador irá encontrar defeitos constantemente. E um Intimidador criará um clima de medo.Quando crianças, a princípio acreditávamos nesses dramas, permitindo que nossa energia fosse sugada. Mas em certo ponto nossas defesas foram estimuladas e começamos a desenvolver nossa própria estratégia para fazer cessar a perda de energia e auto-estima. Para com o Coitado de Mim e o Distante, em geral desenvolvemos uma postura de Questionador, combatendo o sentimento de culpa ou reprimindo o distanciamento com uma crítica de determinada característica ou atitude que encontramos neles. Para com um Questionador, podíamos questionar de volta, ou adotar a fachada indiferente do Distante.O caso do Intimidador é mais complexo. Quando a situação da criança é de abuso e medo, a maioria reage a princípio com o drama do Coitado de Mim. Se o Intimidador aceita a culpa e começa a dar energia de volta, a coisa acaba aí. Mas se a atitude de Coitado de Mim não funcionar, o único recurso contra essa ameaça mortal que é o furto de energia é a criança virar ela própria um Intimidador — às vezes contra aqueles que tentam intimidá-la, porém com freqüência contra crianças menores ou pessoas com menos poder.2Sustentados pelo nosso atual nível de energia mais elevado, enfrentamos agora um desafio ao prosseguimento da nossa evolução. Uma vez que estudemos de perto a dinâmica do ambiente familiar da nossa infância, por mais traumatizante que ele possa ter sido, devemos evitar a tendência para a culpa e o ódio. Como veremos mais tarde, o progresso da nossa consciência está nos levando, em última análise, a ver tudo que aconteceu na nossa vida pelo ponto de vista de uma dimensão além da morte, através do qual sabemos que no ponto máximo da nossa união com o divino escolhemos as circunstâncias em que nascemos. Podemos ter tido a intenção de que tudo saísse de maneira diferente, mas queríamos começar exatamente como começamos.Se encontrarmos em nós mesmos a necessidade de culpar os pais, ou os irmãos, ou qualquer outra pessoa que tenha feito parte do início da nossa vida, isso acontece em geral porque a culpa é em si mesma parte do nosso drama de controle: contamos a história dos nossos sofrimentos para obter solidariedade ou energia, ou a usamos para racionalizar a nossa estratégia de Distantes ou Questionadores. É por isso que não conseguimos perseguir por completo uma união energética interior com o divino até nos libertarmos do nosso passado. Não podemos ir adiante e continuar a expandir a nossa energia porque a culpa sempre nos leva de volta ao antigo drama.Só o perdão consegue liberar totalmente o nosso potencial de superar esses roteiros repetitivos que desperdiçam nosso tempo. E creio que o perdão precisa ser expresso e demonstrado para poder ser totalmente libertador. Muitos terapeutas recomendam escrever uma carta para cada pessoa a quem culpamos, oferecendo o nosso perdão. Isso não significa que precisamos conviver com essa pessoa; essa carta servirá apenas para limpar o terreno para que uma nova vida possa brotar. O perdão reforça aquela consciência superior testemunhal que já conseguimos atingir. A chave para o perdão é simplesmente reconhecer que todos estavam agindo da melhor maneira possível na ocasião. / James Redfield