terça-feira, 21 de abril de 2009

O FECHAMENTO DA TV UNICSUL, QUE PENA !

Coisas “pequenas” também merecem ser noticiadas. Merecem o devido respeito pelo significado que têm no fim das contas. E grande significado, porque nas coisas aparentemente pequenas que ninguém presta atenção – porque quem deveria não faz questão de mostrar – é que se escondem as verdades inconvenientes e necessárias. Mas digo pequenas porque a grande mídia brasileira não dá uma nota sequer. Nem faz cócegas. A TV Unicsul fechou e isso no mínimo faz diferença para os alunos de Comunicação Social da universidade. E para mim, que trabalhava lá. Aliás nem o nome Unicsul existe mais. Tem que dizer Universidade Cruzeiro do Sul. Deixou de ser “UNI”. Deixou? Pelo contrário, está cada vez mais uni, a cada dia mais empresa e menos entidade de ensino. Mas a notícia é outra. E é a mesma. Só por curiosidade, já prevendo qual seria o resultado, digitei no Google “TV Unicsul (e variantes, Cruzeiro do Sul, ou o que seja)” e fiz algumas tentativas de encontrar algo sobre demissões em massa ou o fechamento da TV em dezembro. Nada. Então anteontem consultei o site do Canal Universitário, que veicula a programação de TVs de universidades como a Cruzeiro do Sul. Menos uma agora. O que me entristece não é apenas ter perdido o emprego em meio à crise. Essa parte talvez seja a mais fácil de engolir, coisa previsível até. Difícil é ver o fim de um dos poucos meios de informação livre da contaminação publicitária, sem preocupação com IBOPES, estatísticas mercadológicas e redução do espectador a mero consumidor de programas enlatados. Mas já sabíamos que era perigoso fazer parte do sistema sem se deixar corromper por ele. E nós ainda conseguíamos, nem sei como, nos manter firmes em nosso compromisso social. Talvez por isso tomamos esse peteleco. Nós e uma boa quantidade de funcionários de vários setores da UNI. Culpa da crise. Já havia algum tempo que corriam boatos sobre a fragilidade da TV como “setor produtivo” da empresa. Quando a coisa apertar, a TV é a primeira a rodar, diziam. Claro. Não dava lucro, por que ainda existia? Causávamos prejuízo para a Universidade, que pagava para o CNU veicular nossos programas, como fazem todas as outras TVs universitárias. Sem contar a quantidade de funcionários e equipamentos que tinham de bancar para fazer a coisa funcionar. E pra quê? Pra não mostrar nenhum famoso, ninguém que fizesse a Unicsul parecer mais interessante aos seus potenciais consumidores. Agora está claro porque nosso Windows era 95. Tentavam nos vencer pelo cansaço, a TV já não funcionava havia tempos. Já tinham dado sua sentença de morte. Trabalhávamos de teimosos. E fizemos reportagens incríveis, que não assisti em nenhum outro canal. Confesso que mesmo depois da demissão em massa, ainda guardava, no fundo, alguma esperança burra de um horariozinho na grade do Canal, pelo menos para ter onde passar os trabalhos dos alunos. Uma pena. E ninguém noticia a decadência da educação brasileira (e particular!) que vem chegando aos poucos, com “pequenas” coisas como esta. Todo semestre dúzias de professores com mestrado e doutorado são demitidos, para ser contratados outros pela metade do preço. Eu mesma perdi alguns dos meus melhores professores assim, no meio do curso, sem grandes satisfações. Interessante o valor da mensalidade aumentar todo ano, sem dó nem piedade. E agora tem a tal da Educação à Distância, uma maneira inovadora de reduzir horas/aulas e, portanto, salários de professores e piorar a qualidade das aulas. Uma desgraceira. Nem dá mais pra dizer que é o ensino público que vai mal. É que educação também virou mercadoria. E isso não vende jornal. /Escrito por Mariana Santos