quinta-feira, 14 de agosto de 2008

PARA ONDE VAI O DINHEIRO DO BNDES ?

A revista VEJA, edição 2073, desta semana, fala, em sua coluna “SobeDesce”, o seguinte:
“O BNDES já emprestou 38,6 bilhões de reais neste ano, a taxas abaixo das cobradas no mercado financeiro”. Assim que li a revista, enviei uma carta para os seus editores sugerindo que criem uma reportagem, longa e aprofundada como outras que ela faz, informando ao Brasil para onde foram destinados esses recursos. Pelo que sabemos, a sigla BNDES significa “Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social” e, na sua propaganda, ele diz que é o banco de desenvolvimento de todos os brasileiros. Dentro de uma suposição sensata e coerente, acredita-se que um banco deste, que opera com dinheiro do povo, recursos públicos, verba do erário, deva existir para, de fato, incentivar projetos do povo brasileiro, em geral, que vise o seu desenvolvimento, o incentivo a um novo negócio que venha a gerar renda, recursos e até emprego. Como exemplos: Um grupo de três odontólogos que se formam e desejam montar um consultório, precisando, portanto, de algum incentivo para comprar os equipamentos odontológicos para a clínica, bem como os seus móveis e a instalação em geral. Certamente trabalhariam, ganhariam o seu dinheiro e, depois da carência, começariam a devolver o recurso que fora emprestado. Um Francisco ou João qualquer, que desejaria montar um carrinho de inox, muito bem arrumadinho, para vender caldo de cana e pastel na via pública. Um Manoel ou Joaquim, que precisaria comprar um equipamento para melhorar a produção de pães da sua padaria. Uma Lourdes ou Josefina qualquer, costureira de mão cheia, que precisaria comprar algumas máquinas de costura para iniciar um negócio de produção ou conserto de roupas. Um Zé Carlos ou Raimundão, carpinteiro de qualidade, que gostaria de comprar uma tupia, uma serra circular, lixadeira e outros equipamentos para produzir móveis. Enfim, um brasileiro comum, que tem capacidade, disposição, boa vontade e garra para trabalhar e produzir, como milhões que existem de Norte a Sul do País, que precisaria somente de um empurrãozinho para colocar o seu talento para produzir, proporcionando um certo conforto à sua família e até, talvez, proporcionar algum emprego a algumas pessoas. É aí que reside o meu questionamento, para que a VEJA faça uma reportagem e os meus amigos, leitores, também questionem à revista (
veja@abril.com.br) a levar a fundo este assunto: Qual o percentual desses quase quarenta bilhões de reais foi destinado a esse perfil de brasileiros que eu citei nos exemplos, no primeiro semestre de 2008? Andei pelo site do órgão, vi muita coisa interessante, mas não consegui encontrar a relação de recursos aplicados, para quem foram destinados. Inclusive, em teoria, logo na primeira página do site vamos encontrar esta observação que vejo como importantíssima: “O BNDES não credencia nem indica quaisquer consultores, pessoas físicas ou jurídicas, como intermediários para facilitar, agilizar ou aprovar operações com o próprio Banco ou com as instituições financeiras credenciadas a repassar seus recursos.” Consta, no site, que existe conselho fiscal e tem até uma página denominada “BNDES transparente”. Agora, na prática, tente a costureira Josefina ou o carpinteiro Raimundão, sozinhos, conseguir recursos para comprar as suas máquinas de costura ou os equipamentos da carpintaria, pra ver uma coisa. É neste ponto que eu quero pedir a atenção de todos. Que os recursos são destinados “a todos”, é algo que de fato existe na teoria do órgão. Mas quando você vai a um banco, dos que operaram com o FINAME e as outras linhas de crédito, as exigências são tão absurdas que pouquíssimos brasileiros, mas pouquíssimos mesmo, têm condições de cumprir. Vou citar um exemplo aqui: Você deve se lembrar duma velha piada que dizia mais ou menos assim: Para evitar que um avião caísse, teriam que aliviar o peso transportado, necessitando, portanto, de jogarem um dos 3 passageiros lá de cima. Mas, para fazerem justiça, fariam uma pergunta a cada um deles. O que não acertasse a pergunta, seria jogado. Ao primeiro passageiro, que era branco e americano, perguntaram os nomes das cidades que os americanos jogaram as bombas atômicas, na segunda guerra mundial, quando ele respondeu facilmente: Nagazaki e Hiroshima. Ao segundo, também, branco e inglês, perguntaram sobre o número aproximadamente de mortos, quando ele respondeu facilmente que foi na faixa de 100 mil pessoas. Mas ao terceiro, que era negro, perguntaram o nome, número de identidade e do CPF de cada um dos mortos. O exemplo é um tanto exagerado, mas é mais ou menos isto que fazem com aquele cidadão comum que vai a um banco e pretende obter esse tipo de recurso. As exigências são tantas, os enquadramentos são tão grandes que ínfimo é o percentual de brasileiros que conseguem. Em prática, os recursos do FINAME, a juros baixos e carências para começar a pagar são tão atraentes, que os gerentes dos bancos consideram como verdadeiros filés, entre os produtos que oferecem. Sinceramente, conhecendo o Brasil do jeito que todos nós conhecemos, você acha que eles vão liberar assim, pra qualquer um, sem mais nem menos, sem exigirem coisa nenhuma? Se achar que o escritor está exagerando, vá você numa agência qualquer, de mão abanando, e veja se consegue. Infelizmente, meu leitor ou leitora, com todo respeito que merecem aqueles que defendem o BNDES, trata-se de um órgão que na teoria é uma coisa e na prática é outra. Não estou falando em BNDES de agora, do governo Lula apenas, estou falando de BNDES em toda a sua história, que não é de hoje. Em que pese o aviso que está colocado no site do banco, se você não tiver o empurrãozinho de um deputado, que sempre quer a parte dele, ou se não se submeter a dar alguma “reciprocidade” ao gerente ou a alguém... pode tirar o seu cavalinho da chuva. Não sei a quem foram destinados esses quase 40 bilhões de reais, porque não tenho conhecimento da relação de beneficiados, mas suponho, sem medo de errar, que foram destinados a construções de hidrelétricas, a operadoras de telefonia celulares, construções de usinas de produção de álcool combustível e a mega projetos, de propriedades de grupos muitos poderosos que não têm dificuldade nenhuma em tirar cem mil reais pra um, oitenta mil para outro, cento e vinte pra outro, etc... Vejam bem, estou supondo e não afirmando, porque não quero ser leviano. Cada leitor vive numa região do país e pode averiguar, facilmente, se a matéria tem fundamento ou não. Digo isto com experiência de causa porque, em momento que estava sem qualquer restrição cadastral, a chamada “ficha limpa” (apenas no aspecto comercial, o que nem sempre representa o moral), me foram oferecidas várias facilidades, inclusive 4 milhões de reais numa época e 8 milhões em outra, provenientes de recursos da SUDAM, para começar a pagar somente depois de um ano, a perder de vista, dinheiro este que seria aprovado e depositado em minha conta em menos de 48 horas, só que com uma condição: Eu teria que dar 10% pra um, 5% pra outro, 3% pra outro, 2,5% pra outro... tudo sem recibo, e por aí vai. Vários ficaram ricos com estes recursos. Mas não é preciso que nenhum leitor dê razões a tudo o que está sendo dito aqui, sem checar tudo isto. É facílimo verificar se há razão ou não na matéria, repito: Saia às ruas, aí mesmo na sua cidade, onde certamente devem existir várias carpintarias, várias costureiras, pessoas que vendem cachorro quente e caldo de cana, dentistas, padarias, oficinas mecânicas que precisam comprar equipamentos de diagnósticos mecânicos, pequenos restaurantes de comida a quilo e inúmeras atividades que precisam de máquinas e equipamentos para produzirem e gerar empregos. Faça a pergunta: Você já recebeu algum incentivo do BNDES? Você já tentou? Caso você tenha tentado, quais as exigências que fizeram? Depois diga se é o Roger que está com minhoca na cabeça. O Brasil tem jeito, sim, desde que o seu povo deixe de ser besta, aprenda a questionar e sobretudo PRESSIONAR aqueles que comandam a coisa pública. Se apenas um fala, não surte efeito, porque é considerado uma voz que clama no deserto, mas se muitos agem, cobram e praticam o “tô de olho”, não resta a menor dúvida que começa a incomodar o espertalhão.
Abração a todos.