quinta-feira, 14 de agosto de 2008

PAUTA DO DIA ( ÍNDIO QUER CASSINO )

Há uma diferença entre norteamericanos e brasileiros. Eles vão direto ao ponto. Nós preferimos caminhos tortuosos. Em 1988, enquanto o Brasil promulgou a sua “Constituição cidadã”, que reconheceu os direitos dos povos indígenas e deu origem à política de demarcações de terras, o Congresso dos Estados Unidos aprovou o Indian Gaming Regulatory Act. Essa lei impulsionou um dos negócios mais lucrativos do mundo: os cassinos indígenas. Já existem 294 deles operando em 28 Estados americanos, gerando uma receita anual de US$ 26 bilhões, 670 mil empregos e US$ 11,1 bilhões em impostos. São tão poderosos que os cassinos dos filmes de Hollywood chefiados por baixinhos da máfia italiana, do tipo Danny de Vito, já são minoria. Hoje, quem comanda o bacará e a roleta são caciques de tribos como Mohawk, Mohegan e Haak´u. No Brasil, onde o jogo é atividade ilícita, uma proposta desse tipo seria considerada ultrajante. Mas o que ocorre com os descendentes dos nossos primeiros habitantes? Damos a eles quantidades imensas de terra – mais que um Portugal no caso das reservas de Roraima – e fingimos acreditar que as tribos continuarão vivendo como em 1500, caçando, pescando, tomando ayhuasca e fazendo a dança da chuva. Não é o que acontece. Em Rondônia, os cintas-largas dominam o garimpo de diamantes – e matam a pedradas quem ousa invadir a reserva. Os suruís negociam grandes quantidades de madeira amazônica, e as autoridades fazem vista grossa. No fundo, nossas tribos também têm seus cassinos. Apenas não são contabilizados. Num livro clássico sobre a colonização brasileira, o historiador Jean-Marc Montaigne conta que os franceses compreenderam rapidamente a natureza dos povos indígenas. Enquanto os portugueses tentavam forçá-los ao trabalho, os comerciantes da Normandia negociavam. Trocavam toras de pau-brasil por espelhos, facões e anzóis. Eles se tornaram tão próximos das tribos que chegaram até a editar dicionários normando-tupi-guaranis e a encenar peças de combate para a monarquia francesa, com índios brasileiros atuando em pleno rio Sena. Bom, mas e a preservação da cultura indígena? Nos Estados Unidos, tribos que operam cassinos dão contrapartidas. Investem em museus, parques nacionais e financiam a educação dos índios. Muitos deles têm entrado em grandes universidades. Além disso, a renda média das famílias indígenas já é de US$ 33 mil. Aqui, nossos curumins não têm escolha. Estão condenados a caçar capivaras ou a operar, por baixo dos panos, algum esquema ilegal, com a conivência de homens brancos da Funai e do Ibama. Faz sentido. Afinal, o Brasil é o país da hipocrisia/ Leonardo Attuch