Envelhecer é hereditário. Tive esta certeza com um estalo, um único e sutil estalo. Acordei de um destes sonos milenares, de umas destas ressurreições de mil vidas dormidas. A idade é algo que ganhamos dos pais. Se não tivéssemos pais, se fossemos órfãos eternos, se tivéssemos nascido do nada haveríamos de morrer bebês. Isto mesmo. Seriamos eternos bebês. Aprenderíamos a falar, a correr, a andar, a fazer sexo, a beber, a fumar e etc, etc. Mas seríamos adultos bebês. Sempre fui prolixo. Sou um prolixo vocacional. Hei de morrer prolixo e quando minha alma vagar, ela será prolixa. Tentando deixar de lado estas divagações, vamos ao que interessa. Eu queria falar de amizade, mas comecei falando sobre envelhecer. Cada ano que ganhamos é uma nova responsabilidade adquirida. Envelhecemos justamente para nos tornarmos responsáveis. A idade é, antes de ser nossa sina, a primeira professora que temos. Elas nos ensina a mágica da vida e, muitas vezes, ela é a própria anti-vida. Entendam: Estabanados de problemas, de prazos e de tristezas acabamos recorrendo ao mundo sistemático já hediondo. Sim, hediondez. Talvez esta seja a palavra mais palpável do nosso vocabulário. Todo mundo há, nem que seja num segundo sequer, de ser hediondo, há de ser ordinário e que dócil é ser isto. Deixando mais uma vez as divagações, intensifico o que quero falar: Obrigado. Um grande obrigado. Destes de paraplégico que começa a andar por milagre, por milagre. Agradecer é ínfimo demais, infiel demais e, arrisco dizer, hediondo demais /Bruno de Souza