Diante do computador olho atentamente a página aberta do MSN, instrumento destinado à comunicação instantânea. O programa me mostra as pessoas presentes naquele exato momento. São muitas. Algumas ocupadas, outras em ligação, algumas saíram para almoço. Na verdade não me interessa muito a situação delas, me importa a presença silenciosa. É estranho saber da presença de alguém mantendo silêncio. Algumas dessas pessoas se encontram distantes, bem distantes. Mas, mesmo assim, estando ou não do outro lado do mundo, elas permanecem caladas. Reservam-se o direito de falar ou emudecer. Essa regra, estabelecida de forma tácita, gera em mim uma angústia. Às vezes me sinto careta. É difícil não dizer oi. As pessoas estão ali, bem à minha frente. Como não dizer oi? Como ignorar algo como a presença de alguém que supostamente é meu amigo? De tempos em tempos sou avisado de que alguém acaba de entrar. Se bem entendo, sou comunicado da presença de alguém, alguém esse, que foi adicionado por mim, ou seja, pessoa conhecida. Mas na sala as pessoas não têm olhos, só falam quando são “esbarradas” pelas outras. Nessa sala reina a lei do silêncio. Ali, ser educado significa manter distância até que você seja convocado a dizer algo. Sei reconhecer a genialidade do programa. Como é bom encontrar com um amigo que mora longe. Saber das novidades. A praticidade proporcionada é sem dúvida algo extraordinário. No entanto, a alegria conquistada hoje vai, no decorrer dos dias, cedendo espaço a indiferença necessária. Preciso ser indiferente à presença dele. O limite determina o rótulo de chato. O primeiro encontro é marcado por uma surpresa! Vão horas de bate papo. Nesse momento os olhos se encontram plenamente abertos. E assim, no decorrer dos dias, os olhos vão aos poucos se fechando. Em alguns dias impera o silêncio. Algo além pode determinar a condição de chato. Diante disso tudo, recordo a minha infância. Ai de mim se não cumprimentasse as pessoas. Nem que fosse um bom dia. Passar por alguém sem cumprimentar era, sem dúvida, sinal de péssima educação. Outros tempos, outras demandas. /Teuler Reis