quarta-feira, 17 de setembro de 2008

AUTOMOVÉIS; EGOÍSTAS, ASSASSINOS, POLUIDORES E CAFONAS !

É na direção de um carro que se revela toda a estupidez da espécie humana. O grande sucesso desse invento – que, no começo do século XX, o poeta Olavo Bilac já abominava, está na sensação de poder que ele proporciona ao seu usuário, ou “dono”. O automóvel é o nosso escravo e, com ele sob nossas ordens, nos sentimos detentores de um poder que é muito raro conquistar em qualquer outra esfera da atividade humana. É por isso que, no trânsito das cidades e nas rodovias, somos todos (independentemente do nosso nível social, de escolaridade ou econômico) tão mal educados. É claro que existem exceções. É claro que existem pessoas bem educadas no trânsito. Mas estes anjos são raros, são quase santos. Nosso comportamento no tráfego é, como diria a professora de medicina Julia Greve, da Universidade de São Paulo, comparável ao comportamento de um sujeito que chega numa fila para tomar um elevador e vai abrindo caminho a cotoveladas e pontapés, tirando todo mundo da frente para ser o primeiro da fila. É o exercício do poder automobilístico que nos faz tão monstruosamente estúpidos quando estamos na direção dos veículos. E quanto mais jovens formos, pior fica esse comportamento. Um sujeito que sai “costurando” numa grande avenida, que não respeita limites de velocidade, que “fura” semáforos vermelhos, que invade faixas de pedestres, que passa a fila de carros pela contra mão, que trafega pelos acostamentos das rodovias e faz ultrapassagens arriscadas, não é um sujeito esperto ou, como ele próprio se julga, um ótimo motorista. Ele é simplesmente um imbecil. Um bobo alegre que está colocando em risco a sua saúde e a sua vida, assim como a saúde e a vida de outras pessoas que nada tem a ver com o “complexo de herói” dele. Em todos os fins de semana prolongados, os acidentes nas estradas brasileiras esbarram na casa dos dois mil. As mortes são contadas às centenas. É mais seguro ir passar férias no Iraque do que sair dirigindo por uma rodovia brasileira num feriado prolongado. Mais de metade das mortes por acidentes de trânsito que acontecem no Pronto Socorro do Hospital das Clínicas de São Paulo foram causadas pela embriaguez do motorista. Pesquisa recente da Unifesp mostra que 84% dos motoristas que dirigem bêbados se recusavam a entregar as chaves do carro a alguém sóbrio. O professor Paulo Saldiva, médico patologista responsável pelas pesquisas de qualidade do ar na USP, só anda de bicicleta. Muita gente que tem a cabeça à frente do seu tempo, em todo o mundo, está, cada vez mais, abominando os automóveis. O carro é um meio de transporte realmente ultrapassado. Ele é extremamente perigoso, poluidor, causador de estresse, egoísta e símbolo de um status totalmente ultrapassado. Num futuro não muito distante, o automóvel será considerado algo de extremo mau gosto e tão inadequado quanto o cigarro. Mas, enquanto isso não acontece, se beber, não dirija. E, quando dirigir, ao menos, pra ser menos cafona, vê se respeita as regras do trânsito. / Isabel Vasconcellos