domingo, 7 de setembro de 2008

COMO SE TORNAR IMORTAL !

Na semana passada, a Academia Brasileira de Letras elegeu o jornalista e crítico musical Luiz Paulo Horta para ocupar a cadeira deixada por Zélia Gattai, falecida em maio. Em sessão secreta, com 30 acadêmicos presentes, Horta foi eleito com 23 votos para ocupar a cadeira número 23, que noutrora pertenceu a Machado de Assis, fundador da ABL. Segundo Cicero Sandroni, presidente da entidade, "Horta foi o candidato que não apresentou qualquer índice de rejeição". No entanto, os critérios objetivos para a escolha dos novos acadêmicos são desconhecidos para os mortais. Em O Mago, livro que conta a vida do escritor "imortal" Paulo Coelho, são reveladas algumas práticas comuns que norteiam as eleições na instituição. De acordo com a obra de Fernando Morais, a campanha do adversário de Paulo Coelho na eleição de 2002, Hélio Jaguaribe, contou com o apoio do então Ministro das Relações Exteriores, Celso Lafer, que pedia votos oferecendo em troca "viagens, convites e medalhas". Além disso, vários acadêmicos criticaram a possível eleição do mago. "Tentei ler um livro dele e não consegui passar da página oito" (Raquel de Queiroz), "A sociedade brasileira exige excelência nesta casa" (Nélida Pinõn), "Não é um texto, mas um produto de loja de conveniência" (Candido Mendes) foram algumas das objeções públicas disparadas pelos integrantes da ABL. No pleito realizado em agosto, foram 22 candidatos, entre eles Antonio Torres, Isabel Lustosa, Ziraldo, além de Horta. A revista Piauí publicou, em sua última edição, o perfil de alguns dos candidatos menos escoltados, entre eles o advogado aposentado Felisbelo da Silva, que já publicou mais de 400 livros (Paulo Coelho tem apenas 19 obras publicadas), a maioria de literatura pornô assinadas por pseudônimos femininos. "Com quatrocentos livros, meu lugar só pode ser na Academia Brasileira de Letras", disse à revista. O escritor mineiro Embla Rhodes autor do romance Aether, optou por não atacar seus concorrentes, nem bajular os imortais. "Não me empenhei em fazer campanha, mas os membros da Academia receberam meus livros, além de uma cópia das minhas pesquisas de mestrado e doutorado. Diria que eles têm obrigação de ler. É inconcebível que votem sem conhecer os candidatos." / FONTE JORNAL DE DEBATES