12 de outubro. Há exatamente 16 anos, o deputado Ulysses Guimarães morria a bordo do helicóptero que o transportava de uma praia de Angra dos Reis, no Rio, para São Paulo. Com ele estavam dona Mora, sua mulher, e o casal de amigos Marieta e Severo Gomes, além do comandante da aeronave Jorge Comeratto, também falecidos. O país perdia um dos mais importantes políticos de sua história.Como foi – Amigos dizem que eu deveria poupar palavras sobre as fotos que apresento aqui. Trazem de volta a já gasta e velha máxima de que “uma imagem vale tanto quanto mil palavras”. Discordo inteiramente. Primeiro, acho que depende da imagem e também depende das palavras. Segundo, não escrevo intrinsecamente sobre a foto em questão. Abordo algo que está fora dela, as condições em que foi feita e não simplesmente uma descrição da imagem. Acho interessante dizer dos lances inerentes ao seu conteúdo. Esta, por exemplo, tem uma história que reputo muito curiosa. Sempre fiquei preocupado com o caráter premonitório de algumas fotos que fiz. Mas esta de Ulysses tirou-me o sono por várias noites. O dia 6 de outubro de 1992 foi daquelas terças feiras de pouco movimento no Congresso. No fim da tarde, quando eu voltava para a redação de Veja e descia a escada do Salão Verde da Câmara para o térreo, reparei que a luz do outono brasiliense estava como sempre majestosa. O sol, na altura do horizonte, invadia o andar térreo com uma réstia de raios cristalinos, amarelos. Minha saída coincidia com a chegada do doutor Ulysses. Ele parou em frente ao elevador privativo aos parlamentares para responder a uma pergunta do jornalista Ivanir Bortot, à época da Gazeta Mercantil. Do lugar onde eu estava, no contra-luz, via a silhueta de Ulysses e Bortot, ambos contornados pelos raios de luz. Quatro fotogramas. Confesso que o resultado da imagem me impressionou. Era forte, não tinha a ver com a serenidade daquele momento. Seis dias depois, a trágica notícia do desaparecimento de Ulysses. Constatada sua morte, evidentemente, virou capa da revista. Falei com Mário Sérgio Conti, editor-chefe àquela época, lembrando que resgatasse em São Paulo o tal cromo. Aquela imagem que tanto me chamou a atenção foi para a capa da revista. Depois virou monumento em uma praça de Campinas. Por força do convívio de anos na cobertura da política, assim como outros colegas acabei me aproximando bastante do doutor Ulysses Guimarães. Fiquei bastante entristecido. Recebi inúmeras cartas de leitores da revista. Uma delas trazia uma pergunta que até hoje não consegui resposta: como se sente um jornalista diante da dor dos outros. Incrível! Essas palavras são as que inspiram o título que a ensaísta americana Susan Sontag dá a seu livro sobre o conflito entra a frieza e a emoção que um fotógrafo encontra no front da notícia. /Orlando Brito.