Bom deparar com gente elegante e amável. É raro, mas quando se encontra, é um alento para a humanidade. Importante ressaltar que as gentes elegantes e amáveis não devem ser jamais confundidas com os meros simpáticos. Esses, eu os repugno: a simpatia, para ser nobre, deve escolher bem o alvo; justamente o oposto comportamental do simpático contumaz, hipócrita em seus sorrisos indistintos. Mas se a simpatia deve ser restrita, para seu próprio bem, não deve haver barreiras quanto à gentileza. Gentil, é isso, é essa a palavra. Rubem Braga definiu como o “adjetivo principal, que toda mulher carece merecer”. Concordo plenamente: difícil conceber algo mais elevado do que a gentileza para uma dama – e também para os cavalheiros, embora “mulher gentil” soe bem melhor do que a versão masculina. O curioso é notar que há muito simpático passando longe de ser gentil. Porque a gentileza não precisa estar num sorriso, tampouco no verbo. Pode o gentil morar na tristeza, num silêncio, sobretudo num gesto – sempre discreto. Talvez esteja me enganando, mas acho que já se nasce com isso, ou nunca se tem. Há uma aura gentil na pessoa gentil, e é algo indelével, inexorável. Assim como para a pessoa vulgar – que se não é o oposto semântico, é o contrário espiritual do gentil. Em qualquer língua, em todos os tempos, não poderá haver termo mais degradante. O vulgar nunca é gentil; o gentil, se o é realmente, deve se enojar com a vulgaridade. A maioria dos simpáticos é vulgar, muito embora, quando bem aplicada, a simpatia seja gentil. Tudo que há de medíocre, de baixo, de maçante, de podre, pode ser resumido no vulgar. E assim como a mulher gentil é mais do que o homem com o mesmo atributo, a vulgaridade feminina é mais vulgar. Não há nada mais belo do que um sorriso gentil de mulher; uma vulgar sorrindo é a coisa mais feia do mundo. Doce e amargo, céu e mar, dia e noite, paraíso e inferno – tudo bobagem. A oposição maior, realmente determinante, é entre o gentil e o vulgar. //andresimoes.wordpres