quinta-feira, 30 de outubro de 2008

A TELEVISÃO QUE DESEDUCA !

Vivenciamos, neste momento, uma concorrência inteiramente desleal. Você em casa, na busca da melhor educação a ser dada a seus filhos, e a televisão, eternamente na procura do lucro fácil, transmitindo, diariamente, histórias com exemplos torpes, indignos, desprezíveis, sob o manto da retratação de uma realidade degradante, que, diga-se de passagem, deseduca o povo, atingindo profundamente a já precária base educacional da pobre família brasileira. Somos mesmo uns pobres coitados, a serviço da permanente ganância comercial. Não temos para onde ir. A TV fechada não alcança a humilde classe pobre, que acaba ficando a mercê da voracidade privatista. Vende-se ao povo o que ele quer, sabendo da sua quase inutilidade cultural, e sem se ter a mínima preocupação com a sua formação intelectual. Dá-se o brinquedo desejado, sem que ele saiba, por total desinformação, que aquilo ali não vai ajudá-lo a chegar a nenhum lugar.O governo sabe, ou pelo menos devia saber, que a televisão com o seu altíssimo poder de comunicação, pode e deve ser utilizada para educar, principalmente àquele que se encontra à margem da sociedade. Mas, como isso é um trabalho de médio e longo prazos, cujo retorno não se dá de imediato, evidentemente que as grandes emissoras comerciais não se interessarão por esta empreitada. E tem uma razão lógica; ela não pode bancar com recursos próprios toda uma estrutura material tecnológica e de pessoal sem que, para isso, consiga faturar, a curto prazo, valores tais que lhes permitam mantê-los. E para isso, nada melhor do que dar ao povo o que eles querem, pois afinal é ele o grande alvo dos patrocinadores que engordam as suas receitas. Pelo estágio atual da cultura do nosso povo, não será com programas eruditos que as emissoras conseguirão angariar recursos suficientes à sua sobrevivência, mas sim com novelas e BBB, porque isso é que é o retrato do povo. Ele se identifica nisso, e é disso de que ele gosta.Não estamos criticando a televisão de ser o que ela é, pois a ela precisa ser aquilo que a torna rentável, para poder sobreviver. Cria-se, com isso, um ciclo vicioso, do qual jamais sairemos, se ele não for interrompido. E nunca será por iniciativa da televisão privada, que, evidentemente, continuará acomodada com uma situação que tem sido muito favorável aos seus objetivos imediatos.Caberão ao Governo, aos políticos e aos governantes desenvolver esta complexa tarefa. E aí entram a televisão pública, estatal, e a criatividade de seus empreendedores de dar a estas emissoras algo inimaginável, que possa ser um chamariz de interesse a estes telespectadores contumazes da novela das oito. Talvez seja um ovo de Colombo; talvez algo que exija grande poder de criatividade, não sei. É um desafio.Não é fácil, nós sabemos. Mas é preciso investir e começar, porque o quadro com que nos deparamos é desanimador. Não há nenhum investimento público para que este povo assíduo freqüentador das noitadas televisivas possa, de fato, estar recebendo também algo valioso para a sua formação. As telenovelas, mal comparando, são produtos assistencialistas de entretenimento reproduzindo a nossa realidade (e que realidade!) que o povo consome, sem qualquer pretensão, a não ser de passar o tempo e de se divertir. Por ser isto bem ao estilo do nosso atual Presidente, é que temos uma forte razão, para não acreditar em qualquer tipo de mudança a curto ou médio prazos.Não estamos fazendo apologia para se acabar com as telenovelas, pois afinal têm elas uma ótima qualidade, empregam muitos atores e muita gente que trabalha por trás das câmeras, contribuindo para que se crie um produto de excelente qualidade visual, e exportável, pelo menos também para Portugal. O que não se pode aceitar é que há muito tempo se impinge maciçamente aos telespectadores uma quantidade assustadora de telenovelas, tanto inéditas, como na forma de forma de “vale a pena ver de novo”. Se isso assim continuar, não haverá qualquer possibilidade de revertermos este jogo, do qual o Brasil, sem dúvida alguma, também é campeão, hexacampeão, heptacampeão, e decacampeão, sem dar chance, a curto, médio e longo prazos, a qualquer outro concorrente.O Brasil está perdendo uma excelente oportunidade de se utilizar deste poderoso instrumento de comunicação com o intuito de educar. A força da televisão é impressionante. Não vemos, a não ser esparsamente, qualquer anúncio ou programa que tenha uma conotação educativa. O custo para o Governo Federal de pequenas inserções de mensagens educativas, na programação diária das televisões, seria ínfimo, diante do grandioso resultado que se teria na formação de um povo extremamente carente. Passa-se em branco, sem que ninguém se aperceba que isto poderia ser uma grande arma na educação das crianças, e, principalmente, dos mais velhos, que já se amoldaram serenamente a alguns maus costumes com que nos deparamos em nosso dia a dia. Seria um começo corajoso, mas que provavelmente todos colheríamos bons frutos.Enquanto não se dão conta disso, e continuam confiando na educação escolar, precária, com muitos professores mal pagos e despreparados, e na educação familiar, ineficaz e influenciada impropriamente por costumes inovadores em relação aos conceitos rígidos mais tradicionais, ficaremos assistindo nas ruas de nossas cidades o jovem não ceder o seu lugar nos transportes ao idoso, muitos jogarem lixo na rua, as pessoas chegarem atrasadas em seus compromissos, o vendedor enganar o comprador, dizer-se uma coisa e fazer-se outra, para se preparar ao cargo de político, vender-se gato por lebre, levar-se vantagem em tudo, mentir, o empregador explorar os empregados com salários aviltantes, o cidadão fazer da burla um meio de fugir à fiscalização fiscal e tributária, o povo não exigir dos políticos a devida prestação de contas de cada um, deixar de reclamar os seus direitos, porque deles não tem conhecimento, o médico atender os seus clientes sem qualquer respeito aos horários, o juiz convocar as testemunhas para às 13 horas e atendê-las às 18, enfim inúmeras situações totalmente desrespeitosas que poderiam, por meio de um trabalho profícuo, alcançar-se um estágio de civilização mais avançado, de forma a permitir que o Brasil possa se candidatar a ser visto do primeiro mundo como um Estado que caminha a passos largos na educação de seu povo, preparando-os para se transformarem em fiscais do amanhã, a fim de vencerem as batalhas e a guerra contra a voracidade estatal, oficial e extra-oficial. Caso contrário, não haverá mesmo qualquer esperança. /Luiz Roberto Pires Domingues